O I Seminário Nacional do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – UFES é fruto da mobilização e do trabalho de professores e alunos do PGCS e do Curso de Graduação em Ciências Sociais da UFES interessados em refletir e discutir temáticas que entrecruzam as linhas de pesquisa do Programa com as atividades acadêmicas na graduação buscando, fortalecer a integração entre ambos os cursos e fomentar a educação continuada nas ciências sociais. É um evento de âmbito nacional que ocorrerá entre os dias 31 de maio a 03 de Junho de 2011, e incluirá em sua programação a realização de uma conferência, mesas-redondas, grupos de trabalho, mini-cursos e mostras audiovisuais.
Envio de reumos de trabalho até dia 30/03/2011
MAIORES INFORMAÇÕES: http://seminarionacionalpgcsufes.blogspot.com/

sexta-feira, 4 de março de 2011
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Durkheim e a sociologia

Jéferson Mendes[1]
Émile Durkheim nasceu em Épinal, no dia 15 de abril de 1858, região da Alsácia, na França. Iniciando os estudos em Epinal posteriormente partindo para Paris, no Liceu Louis Le Grand e na École Normale Superiéure (1879). Considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim formou-se em Filosofia onde começou a interessar-se pelos estudos sociais.
Foi o fundador da escola francesa de sociologia, em 1887 quando é nomeado professor de padagogia e de ciência social na faculdade de Bordeaux, no sul da França. Suas principais obras são: Da divisão social do trabalho (1893); Regras do método sociológico (1895); O suicídio (1897); As formas elementares de vida religiosa (1912). Fundou também a revista L’Année Sociologique, que afirmou a preeminência durkheimiana no mundo inteiro. Durkheim morre em Paris, a 15 de novembro de 1917.
O fato social
Durkheim parte da idéia de que o indivíduo é produto da sociedade. Como cita Aron, “[...] o indivíduo nasce da sociedade, e não a sociedade nasce do indivíduo” (2003, p. 464). Logo, a sociedade tem precedente lógico sobre o indivíduo. Durkheim definiu como objetivo da sociologia o fato social, o entende como fato social, “[...] todos os fenômenos que se dão no interior da sociedade, por menos que apresentem, com certa generalidade, algum interesse social” (DURKHEIM, 1999, p. 1). Porém, dessa maneira poderíamos ver todos os acontecimentos como sendo um fato social, pois como Durkheim “[...] todo o indivíduo come, bebe, dorme, raciocina, e a sociedade tem todo o interesse em que essas funções se exerçam regularmente” (DURKHEIM, 1999, p. 1). Logo, se considerarmos esses objetos como sendo fatos sociais a sociologia perde o seu domínio próprio. Assim, “[...] só há fato social quando existe uma organização definida” (DURKHEIM, 1999, p. 4), como regras jurídicas, dogmas religiosos, morais, etc.
Dessa maneira, fato social, é,
[...] toda maneira de fazer, fixado ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas manifestações individuais. (DURKHEIM, 1999, p. 13).
Para Durkheim o modo como o homem age está sempre condicionado pela sociedade, logo a sociedade é que explica o indivíduo, as formas de agir apresentam um tríplice caráter: são exteriores (provem da sociedade e não do indivíduo); são coercitivos (impostas pela sociedade ao indivíduo); e, objetivas (têm uma existência independente do indivíduo). Portanto, os fatos sociais são exteriores, coercitivos e objetivos.
A primeira regra fundamental é considerar os fatos sociais como coisas. Durkheim define coisas dizendo que “[...] as coisas sociais só se realizam através dos homens; elas são um produto da atividade humana” (DURKHEIM, 1999, p. 18). Assim,
É preciso portanto considerar os fenômenos sociais em si mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a nós. (DURKHEIM, 1999, p. 28).
Durkheim entende que Spencer e Comte declararam que os fatos sociais, são fatos naturais, porém não trabalharam os fatos sociais como coisas. Logo, para Durkheim a primeira regra é considerar os fatos sociais como coisas.[2] Dentro do pensamento positivista, deve-se eliminar completamente a influência dos fatos subjetivos e individuais, dessa maneira garantiria a imparcialidade e a neutralidade, portanto esse é o motivo de considerar o fato social como “coisas”.[3]
Em relação a este método, cabe assinalar duas coisas. Em primeiro lugar, que Durkheim compara a sociedade a um “corpo vivo” em que cada órgão cumpre uma função. Daí o nome de metodologia funcionalista para seu método de análise. Em segundo lugar, como se repete novamente a idéia de que o todo predomina sobre as partes. Para Durkheim, isso implica afirmar que a parte (os fatos sociais) existe em função do todo (a sociedade). (SELL, 2001, p. 136).
Assim, Durkheim procura identificar a vida social do indivíduo de acordo com a sociedade, e, que a sociedade possui um papel fundamental na vida social do indivíduo, esse holismo, holoiós, que em grego significa “todo”, assim que “[...] o todo predomina sobre as partes” (SELL, 2001, p. 130).
O suicídio
O suicídio como problema contemporâneo atravessa civilizações, nações passam por problemas, as pessoas sofrem de depressão e vêem como última alternativa o suicídio.[4] Ato improvável e indireto. O ser humano é um ser suicida. Duvido de seis bilhões de seres humanos na terra, qual não pensou em suicídio.[5]
Uma pessoa que está existencialmente insegura sobre seus diversos eus, ou se os outros realmente existem, ou se o que é realmente percebido existe, pode ser inteiramente incapaz de habitar o mesmo universo social como os outros seres humanos. (GIDDENS, 1991, P. 96).
O sentimento de culpa, a sensação de desconforto, afastamento emocional, perda de um familiar, qualquer fator que acarrete o ego como vítima, leva pessoas comuns a pensamentos levianos, na realidade não passa de um pensamento muitas vezes mecânico, onde a pessoa autoflagela seu inconsciente, levando ao desapego corporal a única tentativa de retaliação. Também, “[...] a presença de depressão, alcoolismo ou de dependência de drogas (geralmente drogas prescritas) como um fator de maioria dos casos. Aproximadamente um terço sofria de doença terminal ou de um distúrbio clinico crônico grave” (TOWNSEND, 2002, p. 642).
Alguns fatos curiosos, os protestantes têm mais probabilidades de se tornarem suicidas do que os católicos e os judeus; indivíduos de classe alta e baixa têm mais tendência a se tornarem suicidas do que indivíduos de classe média; com relação à ocupação funcional, o índice de suicídios é maior em médicos, músicos, dentistas, oficiais da lei, advogados e corretores de seguro do que na população geral. [6]
Sigmund Freud entendia o suicídio como a raiva que um indivíduo sentia por si mesmo, visto como um desejo reprimido antes de matar uma pessoa, um ato agressivo ao eu. Ghosh e Victor identificaram a desesperança como fator central que predispõe o indivíduo ao suicídio. Hendin identificou o desespero como fator preponderante.[7]
Emili Durkheim preocupou-se com o fato do suicídio na Europa, pesquisou o que ele considerou com sendo um fato social, estudou de forma concisa, propondo questões e elaborando sérias diferenças quanto ao suicídio. Durkheim entendia que o suicídio possui causas sociais. Segundo ele, “É nos grandes centros industriais que os crimes e os suicídios são mais numerosos [...]” (DURKHEIM, 1999, p. 15).
O que é comum a todas as formas possíveis dessa renuncia suprema é que o ato que a consagra seja completado com conhecimento de causa; que a vitima, no momento de agir, saiba o que deve resultar de sua conduta, qualquer que seja a razão que a haja levado a se conduzir dessa maneira. [...] Chama-se de suicídio todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vitima e que ela sabia que deveria produzir esse resultado. (DURKHEIM, 1984, p. 103)
O suicida sabe o que vai acontecer, como ira lesar o seu ato, qual será o resultado de sua ação. Durkheim procura explicar que o suicídio além de uma causa psicológica, psicopatológica ou mesmo causa de imitação, também possui causa social. Durkheim distingue 3 tipos de suicídio:
suicídio egoísta: quando o indivíduo não está integrado à instituição, sente separado da sociedade, distante das correntes sociais. Não existe integração o indivíduo não se sente parte integrante do grupo ou redes sociais que regulam as ações e imprimem disciplina e ordem (família, religião, trabalho, etc.), os indivíduos apresentam desejos que não podem satisfazer-se. Quando esse egoísmo acaba frustrando-se leva as ondas sociais de suicídio. Também pode aparecer quando a pessoa se desvincula das redes sociais, sofrendo de depressão, melancolia, e outros sentimentos.
suicídio altruísta: é o oposto do suicídio egoísta, o suicida altruísta se revela quando o indivíduo se identifica com uma causa nobre, com a coletividade, essa identificação deve ser tão intensa que este acaba renegando a própria vida pela sua identificação. Está excessivamente integrado ao grupo, frequentemente está regulada por laços culturais, religiosos ou políticos, essa integração acaba sendo tão forte que o indivíduo acaba sacrificando sua própria vida em favor do grupo (Mártires, Kamikases, etc.).
suicídio anômico: deve-se a um desregramento social, ocorre depois da mudança na vida de um indivíduo (ex: divórcio, perda de emprego), o que desorganiza os sentimentos de relação com o grupo em que não existem normas ou estas perderam o sentido. Quando os laços que prendem os indivíduos aos grupos se afrouxam.
O que Durkheim deixa claro nos tipos de suicídio estudados é a relação indivíduo-sociedade, o suicídio ocorre tanto pela falta da ação do indivíduo em determinada sociedade como pela pressão que está sociedade acarreta sobre ele. Adam Smith considerado o fundador da economia, século anteriores entendia que havia duas ações que levariam os homens a ampliar seus talentos, a busca de estima e o medo de desaprovação, talvez a falta do primeiro e a excessividade no segundo levaria a uma generalização do ego e tornaria frutífero o pensamento leviano nas pessoas. Porém, as causas do suicídio segundo Durkheim sempre são sociais. Durkheim considerava o crime como um fato social normal, já “[...] o suicídio era para ele um fato social patológico que evidenciava que havia profundas disfunções na sociedade moderna” (SELL, 2001, p. 146).
Da divisão do trabalho social
Os efeitos gerados pela Revolução Industrial eram assuntos pertinentes a diversos autores do século XIX e XX, Durkheim para explicar a modernidade busca o conceito de “divisão do trabalho social”, assim buscava identificar a formação de um novo método de trabalho ativava a fragmentação social, assim ocorreria o surgimento de esferas sociais. Logo, para Durkheim a divisão de tarefas também passa ser fonte de relação e interação social.[8] Porém,
Mas a divisão do trabalho não é específica do mundo econômico: podemos observar sua influência crescente nas regiões mais diferentes da sociedade. As funções políticas, administrativas, judiciárias especializam-se cada vez mais. O mesmo ocorre com as funções artísticas e científicas. Estamos longe do tempo em que filosofia era a ciência única; ela fragmentou-se numa multidão de disciplinas especiais, cada uma das quais tem seu objeto, seu método, seu espírito. (DUKHEIM, 1999, p. 2).
Assim, Durkheim identificava que a divisão do trabalho não se dava apenas pelo processo econômico, mas também em outras organizações, como nas funções artísticas, administrativas e políticas. Durkheim inicia discutindo qual é a função da divisão do trabalho. A divisão do trabalho tem como objetivo principal tornar a civilização possível, caso não fosse estaria tornando a moralidade neutra.[9]
Durkheim citando Heráclito a respeito das diferenças no qual entendia que a discórdia é o principio do de todo devir. Assim, parte da divisão em outras categorias, que “A dessemelhança, como a semelhança, pode ser uma causa de atração mutua” (DUKHEIM, 1999, p. 20). Logo, procuramos em nossos amigos as qualidades que nos faltam, que o homem e a mulher possuem suas diferenças, logo tanto a divisão do trabalho determina a relação de amizade, como a divisão do trabalho sexual é a fonte da solidariedade conjugal. [10]
Primeiramente é necessário buscar se existe uma solidariedade social que esteja sendo proveniente da divisão do trabalho. Dessa forma, é necessário determinar a solidariedade que ela produz interfere na integração da sociedade, assim para perceber até que ponto essa solidariedade é necessário.[11]
A solidariedade social, porém, é um fenômeno totalmente moral, que, por si, não se presta à observação exata, nem, sobretudo, a medida. Para proceder tanto a essa classificação quanto a essa comparação, é necessário, portanto, substituir o fato interno que nos escapa por um fato externo que o simbolize e estudar o primeiro através do segundo. (DURKHEIM, 1999, p. 31).
A solidariedade social, quando forte entre os homens inclina-os, colocando-os reciprocamente em contínuo contato, relacionando-se constantemente. Assim, quanto mais os membros da sociedade são solidários, mais eles mantêm relações uns com os outros, caso não mantessem contatos constantemente suas relações e mesmo sua dependência seria menor.[12] O que existe e vive realmente são as formas particulares de solidariedades, a solidariedade doméstica, a solidariedade profissional, a solidariedade nacional, etc. e esse estudo da solidariedade pertence ao estudo da sociologia, é um fato social que só pode ser conhecido através do estudo de seus efeitos sociais.[13] O direito que apresenta as formas essenciais de solidariedade social, dessa forma é necessário classificar as diferentes formas de direito para poder classificar as diferentes formas de solidariedade social. A principal idéia de direito é aquela que o divide em direito público e direito privado, o público regula as relações entre os indivíduos e o Estado, e o privado o indivíduo entre si. Porém, todo o direito é público, da mesma forma que todo o direito também passa a ser privado.[14]
Há dois tipos de sanções. Umas consistem essencialmente numa dor, ou, pelo menos, numa diminuição infligida ao agente; elas têm por objeto atingi-lo em sua fortuna, ou em sua honra, ou em sua vida, ou em sua liberdade, privá-lo de algo de que desfruta. Diz-se que são repressivas – é o caso do direito penal. É verdade que as que se prendem às regras puramente morais têm o mesmo caráter, só que são distribuídas de uma maneira difusa por todo o mundo indistintamente, enquanto as do direito penal são aplicadas apenas por intermédio de um órgão definido: elas são organizadas. Quanto ao outro tipo, ele não implica necessariamente um sofrimento do agente, mas consiste apenas na reparação das coisas, no restabelecimento das relações perturbadas sob sua forma normal, quer o ato incriminado seja reconduzido à força ao tipo de que desviou, quer seja anulado, isto é, privado de todo e qualquer valor social. Portanto, devemos dividir em duas grandes espécies as regras jurídicas, conforme tenham sanções repressivas organizadas ou sanções apenas restitutivas. A primeira compreende todo o direito penal; a segunda, o direito civil, o direito comercial, o direito processual, o direito administrativo e constitucional, fazendo-se abstração das regras penais que se podem encontrar aí. (DURKHEIM, 1999, p. 37).
Portanto, para entender a classificação da solidariedade, Durkheim parte do entendimento da necessidade de se entender as formas de direito que são estendidas em dada sociedade, se és aplicado o direito restitutivo ou o direito repressivo. Além de sua grande tese de doutorado, Da Divisão do Trabalho Social, também mostra a influência positivista. Durkheim entende que a sociedade passa por um determinado processo de evolução, essa evolução que está sendo provocada pela diferenciação social. Ocorrendo que a primeira etapa desse processo de evolução social Durkheim chamou de “sociedade de solidariedade mecânica”, já o que se refere à etapa final de “sociedade de solidariedade orgânica”. Assim, organiza da seguinte forma os dois tipos de sociedade.
Sociedade de solidariedade mecânica
Sociedade de solidariedade orgânica
Laço de solidariedade
Consciência coletiva
Divisão do trabalho social
Organização social
Sociedade segmentada
Sociedades diferenciadas
Tipo de direito
Direito repressivo
Direito restitutivo
Sociedade de solidariedade mecânica
A sociedade de solidariedade mecânica é na verdade um mecanismo de interação dos indivíduos nos grupos ou nas instituições sociais. Da mesma forma, acaba sendo representada pelas diferentes formas de organização na sociedade, segmentada ou diferenciada, também os tipos de direito, se este se baseia no princípio do direito repressivo ou restitutivo.
O vínculo de solidariedade social a que corresponde o direito repressivo é aquele cuja ruptura constitui o crime. Chamamos por esse nome todo ato que, num grau qualquer, determina contra seu autor essa reação característica a que chamamos pena. Procurar qual é esse vínculo é, portanto, perguntar-se qual a causa da pena, ou, mais claramente, em que consiste essencialmente o crime. (DURKHEIM, 1999, P. 39).
Dessa forma, Durkheim inicia trabalhando a diferença da sociedade de solidariedade pela pena, ou melhor, pelo crime que cada sociedade comete dessa maneira como o crime é dado como restituição do ato cometido. Assim “São todos os crimes, isto é, atos reprimidos por castigos definidos” (DURKHEIM, 1999, p. 40).
Nas sociedades de solidariedade mecânica os indivíduos vivem em comum porque partilham da consciência coletiva, assim partilham dos pensamentos em conjunto, elaboram a sua vida através da vida dos outros em praticamente todas as ações “[...] a sociedade inteira participa numa medida mais ou menos vasta” (DURKHEIM, 1999, p. 4).
Os indivíduos se assemelham muito existindo poucas diferenças entre eles, logo se assemelham pelos mesmos gostos, sentimentos, valores e reconhecem nos objetos as mesmas representações do sagrado, assim a semelhanças é enfim o ponto de fundamentação.[15] Portanto, “Nas sociedades dominadas pela solidariedade mecânica, a consciência coletiva abrange a maior parte das consciências individuais”. (ARON, 2003, p. 463).
Durkheim define a vida coletiva como “[...] um conjunto de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, que forma um sistema determinado que possui vida própria” (DURKHEIM, 1995, p. 50). Logo, esse laço de solidariedade forma a consciência coletiva.
Nas sociedades primitivas, cada indivíduo é o que são os outros; na consciência de cada um predominam, em número e intensidade, os sentimentos comuns a todos, os sentimentos coletivos. (ARON, 2003, p. 459).
O grupo na sociedade de solidariedade mecânica prevalece, possui mais eqüidade, aparece mais, logo tem predomínio sobre o indivíduo. O indivíduo não possui relação com o mundo exterior. Logo, são tão semelhantes que pouco se caracterizam como diferenciais, abrindo poucos intervalos para individualidades. Os indivíduos comungam entre si, vivem a comunidade fazendo-se interações, como por exemplo, as sociedades indígenas.
Porém, como fazer transparecer isso,
[...] Durkheim, optou pelo estudo das normas jurídicas que, segundo ele, são um dos meios pelo qual a sociedade materializa (ou torna concreta) suas convicções morais, que são um dos elementos da consciência coletiva. De acordo com a forma pelo qual ele é organizado, o direito é o símbolo visível do tipo de solidariedade que existe na sociedade. Assim, nas sociedades de solidariedade mecânica temos o predomínio do direito repressivo, [...] o predomínio da punição. De acordo com a explicação de Durkheim, isto mostra a força da consciência coletiva sobre a vida dos indivíduos. (SELL, 2001, p. 140-41).
Assim, as normas jurídicas representam de certa forma a sociedade em que vivemos, repressiva ou restitutiva. Nas sociedades de solidariedade mecânica as punições são dadas aos indivíduos e estes não podem dela fugir ou mesmo fazerem-se livres, pois a punição faz com que a sociedade de coesão e não se danifique, logo não se admite violação das regras sociais. “Quanto mais forte a consciência coletiva, maior a indignação com o crime, isto é, contra a violação do imperativo social”. (ARON, 2003, p. 463). A punição não passa de uma lição aos outros indivíduos para que não façam o mesmo.
A organização social da sociedade de solidariedade mecânica é uma sociedade segmentada, da qual há a existência de poucas mudanças, onde os grupos vivem isolados, “[...] com um sistema social que tem vida própria” (SELL, 2001, p. 141). Logo, a manifestação com o exterior é escassa pelo fato que a sociedade sustenta-se por si mesmo. Assim, Durkheim as vê como as sociedades antigas.
É possível a existência de um grande número de clãs, tribos ou grupos regionalmente autônomos, justapostos e talvez até mesmo sujeitos a uma autoridade central, sem que a coerência por semelhança do segmento seja quebrada, sem que se opere, no nível da sociedade global, a diferenciação das funções características da solidariedade mecânica. (ARON, 2003, 461).
Assim as sociedades de solidariedade mecânica estão pouco passíveis de mudanças, geralmente encontram-se estagnadas, a diferenciação é dificultada, pois o enraizamento social está determinado, e, segue-se em etapas.
Sociedade de solidariedade orgânica
Nas sociedades de solidariedade orgânica os laços de solidariedade exigem a divisão do trabalho social, o tipo de organização social é de uma sociedade diferenciada, também o tipo de direito, diferente da sociedade de solidariedade mecânica, deve ser restitutivo. Durkheim vê como uma lei na história a passagem da sociedade de solidariedade mecânica para a sociedade de solidariedade orgânica.
É, pois, uma lei da história a de que a solidariedade mecânica, que, a princípio, é única ou quase, perde terreno progressivamente e que a solidariedade orgânica se torno pouco a pouco preponderante. Mas quando a maneira como os homens são solidários se modifica, a estrutura das sociedades não pode deixar de mudar. A forma de um corpo se transforma necessariamente quando as afinidades moleculares não são mais as mesmas. Por conseguinte, se a proposição precedente é exata, deve haver dois tipos sociais que correspondem a essas duas sortes de solidariedade. (DURKHEIM, 1999, 17).
A atividade é mais coletiva, os indivíduos dependem uns dos outros, devido à especialização de funções ou mesmo a divisão do trabalho social. Demonstra que nas sociedades ditas modernas as sociedades são altamente desenvolvidas e diferenciadas, assim cada indivíduo exerce funções diferenciadas.
Na realidade o que leva as pessoas a interarem-se é mesmo o progresso dos meios da especialização das funções que os indivíduos exercem entre si, ou mesmo em conjunto, logo os indivíduos acabam se tornando independentes das atividades em diferentes setores da vida social.
Como conclusão, Durkheim afirma que a divisão do trabalho social não pode ser reduzida apenas a sua dimensão econômica, no sentido de que ela seria responsável pelo aumento da produção, sendo está a sua função primordial. Ao contrário, a divisão trabalho social tem antes de tudo uma função moral, no sentido de que ela passa a ser o elemento chave para a integração dos indivíduos na sociedade. (SELL, 2001, 144).
Dessa maneira Durkheim entende que a verdadeira função da divisão do trabalho social possui como fator principal o sentimento de solidariedade entre os indivíduos de determinada sociedade. Porém, com a crescente diversificação das funções, cresce também o sentimento de individualidade entre os indivíduos, a consciência coletiva acaba perdendo seu papel de interação social. Portanto, os “[...] efeitos produzidos pela divisão do trabalho, contribuindo para manter o equilíbrio da sociedade” (DURKHEIM, 1999, p.223). Quanto mais o trabalho for dividido, maior rendimento terá.[16]
Mas, se a divisão do trabalho produz a solidariedade, não é apenas porque ela faz de cada indivíduo um “trocador”, como dizem os economistas; é que ela cria entre os homens todo um sistema de direitos e deveres que os ligam uns aos outros de maneira duradoura. (DURKEHIM, 1999, P. 429).
Com a suposta desestruturação coletiva ocorrem duas funções de interesses comuns, uma seria a autonomização dos indivíduos que elaborariam mais as suas tarefas, e se enquadrariam em seus desejos e anseios sociais, a segunda questão seria que essa autonomização do indivíduo também levaria a um egoísmo sem precedente, os próprios indivíduos entrariam em choque com eles mesmo, assim, “Temos uma divisão anômica do trabalho que, para Durkheim, era o grande problema da sociedade moderna” (SELL, 2001, p. 145).
Seguindo a lógica desenvolvimentista, Durkheim vê a mudança de sociedade como um processo gradual, que através da diferenciação social, ela iria evoluindo, entendendo que haveria três fatores para o desenvolvimento da sociedade.
Volume
Densidade material
Densidade moral
Assim, o volume caracterizaria como um suposto aumento do número de indivíduos de determinada sociedade, para que ocorra a diferenciação é preciso acrescentar a densidade, tanto à densidade moral quanto a material, a densidade moral, entraria nas comunicações e trocas que os indivíduos fazem entre si. Já a densidade material entraria no aspecto de indivíduos por porcentagem com relação à superfície do solo. Logo, quanto mais intenso for o relacionamento entre os indivíduos maior será a sua densidade. Assim, “[...] o crescimento quantitativo (volume) e qualitativo (densidade material e moral), ocorre na sociedade um processo de especialização das funções, chamado por Durkheim de divisão do trabalho social” (SELL, 2001, p. 143).
Bibliografia:
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. Tradução Sérgio Bath. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
DURKHEIM, Émili. As regras do método sociológico. [tradução: Paulo Neves; revisão da tradução Eduardo Brandão]. 2º. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social. [tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
DURKHEIM, Emili. Émili Durkheim: sociologia / organizador (da coletânea) Josué Albertino Rodrigues; (tradução de Laura Natal Rodrigues). 3. ed. São Paulo: Ática, 1984.
GIDDENS, Antony. As conseqüências da modernidade. [tradução Raul Fiker]. São Paulo: Editora UNESP, 1991.
SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. 4º ed. Itajaí: Ed. UNIVALI, 2002.
TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de cuidados. [tradução: Fernando Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002.
[1] Professor/tutor nas áreas de História, Geografia, Filosofia e Sociologia. Graduado em História pela Universidade de Passo Fundo. Pós-graduando em Sociologia pela Universidade de Passo Fundo. Pós-graduando em Educação a Distancia pela Faculdade de Tecnologia SENAC. Mestrando em História pela Universidade de Passo Fundo. E-mail: mendesjeferson@yahoo.com.br.
[2] DURKHEIM, Émili. As regras do método sociológico. [tradução: Paulo Neves; revisão da tradução Eduardo Brandão]. 2º. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 16.
[3] SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. 4º ed. Itajaí: Ed. UNIVALI, 2002, p.132.
[4] O suicídio foi identificado como a terceira maior causa de morte (depois dos acidentes com veículos a motor e os homicídios) no grupo de 15 a 24 anos de idade (Murray & Zentner, 1997). A freqüência de suicídio em adolescentes triplicou nos últimos 30 anos (Murphy, 1994). Um dos principais fatores que contribuem pra este fato é o aumento dos distúrbios depressivos entre os jovens (Ghosh & Victor, 1994). Outros fatores de risco associados ao suicídio em adolescentes incluem a religião (menor probabilidade nos casos de católicos e judeus), ter pais portadores de doenças psiquiátricas (especialmente uso excessivos de drogas ou álcool), uma história de suicídio na família, desemprego paterno e ausência do pai ou da mãe (Slaby, Lieb & Tancredi, 1986). In: TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de cuidados. [tradução: Fernando Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002, p. 206.
[5] Embora as pessoas com idade superior a 65 anos representem apenas 12 por cento da população, elas incluem uma taxa desproporcionalmente elevada de pessoas que cometem suicídio. De todos os suicidas, 17 por cento pertencem a esta faixa etária, e o suicídio é agora uma das primeiras 10 causas de morte entre a população idosa. In: TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de cuidados. [tradução: Fernando Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002, p. 642.
[6] Saber mais. In: TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de cuidados. [tradução: Fernando Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002, p. 206.
[7] TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de cuidados. [tradução: Fernando Diniz Mundim]. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002, p. 206.
[8] SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. 4º ed. Itajaí: Ed. UNIVALI, 2002, p.138.
[9] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social. [tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 18.
[10] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social. [tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 22.
[11] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social. [tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 30.
[12] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social. [tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 31.
[13] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social. [tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 34.
[14] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social. [tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 36.
[15] ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. Tradução Sérgio Bath. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 458.
[16] DURKHEIM, Émili. Da divisão do trabalho social. [tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 224.
extraido de www.consciencia.org/durkheim-e-a-sociologia em 03/02/11 as 10.33
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Reflexão

O Marcelo Garcia nao é unanimidade, ninguem é, e isso é muito bom. No que se refere a ciencia, a produçao de conhecimento e a opinião sempre teremos perspectivas e nao verdades. Vale a pena ler o que foi escrito. Confesso que boa parte da reflexão dele é a minha. Acho que a Universidade é um "conto de fadas" dissociado da pratica, a impressão que tenho é que apenas mudaram os termos: revolução do proletariado para projeto etico -politico, mas, se continua com a visão messianica de mudar a sociedade, de ser fazer a revolução. Como se nao podemos mudar nossa realidade? Isso tem causado frustrações e doenças emocionais as colegas que ao inves de viverem no reino de Alice dos teoricos enfrentam a realidade dos baixos salarios, pessimas condiçoes de trabalho e indefinição dos empregadores quanto o fazer profissional.
Conversando com uma amiga ela me perguntou, esta lendo um dos nossos teoricos, se a literatura do Serviço Social era sempre assim, tão maniqueista. Disse que sim. Uma profissão que defende em seu codigo de etica a nao discriminação, nao sabe conviver composições teoricas divergentes. Experimente um AS na pratica ou ate na sua produção teorica dizer-se por exemplo seguidor da linha fenomenológica se nao será execrado? Se é religioso, evangelico por exemplo mais ainda, é ridicularizado por isso.
Temos uma piramide entre nós. Quem pode pagar os cursos oferecidos, quem pode fazer pós, quem pode fazer mestrado, quem pode ir aos encontros, quem pode pagar a anuidade? A configuração capitalista nao existe entre nós? Onde esta a equidade da profissão? A quem o CRESS e o CFESS representam?
Quando esta desempregado, doente, mal empregado, sendo assediado moralmente a quem recorre?
Quantas colegas estão doentes do ponto de vista emocional, frustradas e nao tem onde recorrer e nem como falar?
Mas o reino da carochinha faz teoria, se é que faz... sei nao...Mas, nao se luta por nós profissionais, se faz embate ideologico para a revolução do proletariado...se persegue quem pensa diferente...
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CONTINUANDO
e nós ganhamos 700,00 reais, participamos de processos seletivos esdrúxulos onde se percebe que o empregador opta por um profissional inexperiente exatamente para explorá-lo.
E os postos de trabalho sumindo sejam em concursos, sejam nas ONGS, sejam nas empresas e outras profissões assumindo os espaços que deveriam ser nossos.
Elas fazem teoria e os recem formados nao conseguem emprego...
Elas fazem teoria e os alunos estão em surto porque nao sabem o que faram na pratica
Elas fazem teoria e nós estamos subempregadas
Elas fazem teoria e nós estamos desempregadas
Elas fazem teoria e nós recebemos salarios miseraveis e as sustentamos
Elas fazem teoria e nós estamos doentes
Elas fazem teoria e nós nao saimos do lugar
Elas fazem teoria e nós nao chegamos as chefias
Elas fazem teoria e nós nao influenciamos nas politicas sociais...
Será que nao esta na hora do projeto etico-politico se fazer concreto entre nós? Sera que nao esta na hora de fazermos a revolução do proletariado do serviço social?
Candida Maria
A CRISE DO SERVIÇO SOCIAL

25/01/11
1- Tenho estado pelo Twitter falando de trabalho, assistência social, direitos humanos, cotidiano e dos desafios da vida. Me acha lá: @marcelogarcia_
2- O Serviço Social vive uma crise enorme. Uma crise preocupante. Cada vez menos temos uma definição sobre o futuro da profissão. A profunda confusão que os "donos" do Serviço Social e a turma da "ficção ideológica" promovem no campo ideológico pode aos poucos desmobilizar a intervenção dos profissionais nos setores estratégicos de trabalho.
3- A situação é muito delicada. Outras profissões vão ganhando espaço sobre o Serviço Social sem que isso nos cause preocupação. Eu estou bastante preocupado.
4-O mundo da LUA vem se consolidando dia após dia no mundo particular das universidades, sobretudo públicas.
5- Esta crise na profissão começou ainda nos anos 70 e vem se ampliando dia a dia. Com a chegada dos alunos nas décadas de 80 e 90, na função de professor, esta crise se agravou. Posso dizer que mais de 90% dos professores não tem qualquer ligação com a prática do serviço social e optaram em se distanciar da realidade.
6- Qual a prática de Mavia Pacheco? Qual a prática de Elaine Beringh? O que, por exemplo, estas duas professoras Doutoras produziram de concreto para a realidade do Serviço Social?
7- Gente como Mavi e Elaine teorizaram o Serviço Social e fizeram tudo, e ainda fazem, para que a profissão não mantenha nenhuma relação com a prática e com a realidade social.
8- Gente como Mavi e Elaine sempre negaram a Proteção Social como objeto do trabalho dos assistentes sociais.
9- Ano passado a Lei que estabeleceu as 30 horas semanais para os assistentes sociais foi sintomática para nos indicar esta crise. De uma hora para outra os assistentes sociais passaram a trabalhar 30 horas e sem a chamada de novos profissionais a vida seguiu totalmente igual.
10- Os assistentes sociais vivem um hiato entre o que fazem e que a sociedade espera que façam. Parte dos assistentes sociais acham que podem e devem ter uma agenda privada de atuação sem que esta tenha articulação com as demandas da sociedade.
11- Eu considero que a crise é grave e se nada for feito teremos uma profissão se desmanchando ao londo dos próximos anos.
12- Ter como principal ponto de pauta de uma profissão a diminuição da carga horária, sem dúvida diminui também a importancia da profissão no Brasil.
13- O que mais me incomoda é que as universidades públicas, os "donos" e a turma da "ficção ideológica" não estão nem um pouco preocupados com o que ocorre. Pode até ser que estejam preocupados, mas não demonstram.
14- Hoje, no Brasil, quem define a Agenda Social são os economistas. Aonde estão os assistentes sociais?
15- Hoje, no Brasil quem define as macro políticas de combate à pobreza não são os assistentes sociais.
16- Quem regula o conjunto CFESS/CRESS que usam de seus espaços de autarquia para estruturar a profissão para fazer política ideológica?
17- O conjunto CFESS/CRESS não pode ser livre para afundar a profissão. Pode?
extraido de www.marcelogarcia.com.br em 28/01/2011 as 11.22
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
domingo, 12 de dezembro de 2010
PROFESSORA, SIM; TIA, NÃO: CARTAS A QUEM OUSA ENSINAR

TEACHER, YES; AUNT, NO: LETTERS TO WHOEVER DARES TEACH
INSTITUTRICE, OUI; TANTE, NON: LETTRES À QUICONQUE OSE ENSEIGNER
PROFESORA, SI; TIA, NO: CARTAS A QUIÉN SE ATREVE A ENSEÑAR
Paulo Freire (1. ed.: maio 1993).
16. ed. São Paulo: Olho d’Água, fev. 2006. 127 p.
ISBN 85-85428-07-04.
*Responsáveis pela resenha:
-Maria Izete de Oliveira, Doutora em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC – SP, 2002). Professora do Departamento de Pedagogia da Universidade do Estado de Mato Grosso, Unemat – MT. Desenvolve projeto de pesquisa em Educação Infantil com financiamento do CNPq (afoize@gmail.com).
-Cândida Maria Ferreira da Silva, Assistente Social pela Universidade Federal Fluminense. Teóloga pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Especialista em Políticas Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e em Infância e Violência Doméstica pela Universidade de São Paulo.(candida215@hotmail.com)
Paulo Freire, desde o início de sua vida como educador, optou claramente por estar do lado dos oprimidos, pois conhecia de perto as injustiças sociais que se abatiam sobre a classe mais pobre. Foi pioneiro no Brasil, a partir de meados dos anos 60, na utilização de métodos revolucionários voltados para a alfabetização de adultos que, além de alfabetizá-los, também os politizavam. Paulo Freire foi exilado no Chile, onde continuou sua prática libertária de educação. Em 1980, retornou ao Brasil e deu continuidade às suas idéias de educação libertária e conscientizadora. Em maio de 1997, morreu vítima de um ataque cardíaco.
O autor inicia sua reflexão contando-nos sobre a dialética do pensar e explica como a retomada das reflexões sobre suas obras anteriores contribuiu para a escrita desta obra; como os atos de pensar e escrever não podem ser mecanizados nem dicotomizados, mas que existe uma solidariedade dialética entre um ato e outro, os quais formam o conjunto de saber o objeto pensado, construindo assim o conhecimento de dado assunto.
Posteriormente, o autor toma seu tema predileto, a alfabetização de adultos, pela qual lutou toda a sua vida, mostrando-nos como o analfabetismo é uma castração do ser humano como ser pensante; não é apenas um problema social, mas, na verdade, é uma violência contra o indivíduo. Freire enfatiza, com muita propriedade, que o analfabetismo castra o corpo consciente e falante de mulheres e homens, proibindo-os de ler e de escrever, limitando sua capacidade de fazer uma leitura do mundo e repensar sua própria leitura numa atividade reflexiva que o torne consciente de si mesmo e de sua participação no mundo.
As culturas letradas proíbem o analfabeto de participar da vida social e da assunção da sua plena cidadania e do crescimento e amadurecimento na construção do saber, pois a solidariedade dialética do ato de ler, de escrever e de re-ler, se bem assumida, nos leva a uma crescente capacidade criadora, e, quanto mais amadurecemos nesse movimento, mais pensadores críticos nos tornamos “do processo de conhecer, de ensinar, de aprender, de ler, de escrever, de estudar” (p. .
Freire continua sua reflexão sobre o ato de pensar e de escrever, enfatizando que o estudar é um profundo movimento solidário da dialética e nos introduz em um novo assunto, qual seja a polêmica temática Professora, sim; tia, não. Logo, esclarece sua intenção ao definir o que quer transmitir com suas reflexões: que aquele que ensina é também um aprendiz e que essa atividade é prazerosa, mas igualmente exigente de seriedade, de preparo científico, de preparo físico, emocional e afetivo. A atividade de ensinar também exige ousadia, pois requer envolvimento emocional; aprendemos com todo o corpo, com a emoção e com a razão e nunca podemos dicotomizar esses sentimentos. Pensar o aprendizado como uma ação que envolve emoções é uma ousadia, principalmente quando essas emoções ou esse amor levam à resistência contra a realidade social e política na qual vivem os “ensinantes-aprendizes”.
O autor, então, descortina a questão que, aos olhos do senso comum, parece amorosa, qual seja tratar a professora de tia, mas, na verdade, esse tratamento esconde a ideologia da passividade do “ensinante-aprendiz”, pois resistir a uma política e uma realidade social angustiante e de sucateamento do ensino não é para seres passíveis, amorosos e parentais como a maioria das tias.
O autor defende com veemência que ensinar é uma tarefa que envolve militância e especificidade no seu cumprimento e que ser tia é viver uma relação de parentesco, e, por isso, nunca poderia ser uma profissão. Ensinar implica educar e vice-versa, e, para tanto, é necessária a “paixão do conhecer”, que nos envolve, como diz Freire, numa busca prazerosa, mas nada fácil.
Entretanto, não é intenção do autor, com essas afirmações, desvalorizar a tia, mas valorizar a professora, não lhe retirando aquilo que lhe é fundamental: sua responsabilidade profissional, que faz parte da exigência política de sua formação, esta em estado permanente. Concordamos com o autor quando faz essa reflexão, pois o termo “tias” carrega uma ideologia de “boas moças”, que não brigam, não resistem, não se rebelam, não fazem greve.
O autor chama a atenção para o fato de que as “ensinantes” são também “aprendizes”, porque, enquanto se ensina, se aprende, e que estas devem se definir sempre como professoras, desafiando-as a deixar o cômodo papel de tia e refletir sobre até que ponto querem deixar a comodidade que essa expressão carrega e assumirem-se como verdadeiras profissionais da educação.
Ressaltamos que, assim como Freire, também não concordarmos com o uso da expressão tia para designar uma professora, em função da questão político-ideológica que se esconde por trás do termo, mas reconhecemos que existem muitas professoras que são denominadas como tias e desenvolvem excelentes trabalhos, assim como existem aquelas que são consideradas professoras e, no entanto, não fazem jus ao título.
Neste sentido, enfatizamos que, seja qual for o sistema educacional vigente, reacionário ou democrático, sejamos sempre professoras, assumindo nosso papel profissional e nos posicionando política e eticamente na nossa função de ensinar, não nos esquecendo de ensinar, também, sobre cidadania a nossos alunos e a suas famílias.
O autor finaliza sua reflexão acerca da avaliação da prática da professora, que deve ser avaliada não para ser punida e, sim, para melhor se formar, ou seja, aprimorar a sua prática pedagógica. Entendemos que todo profissional deve ter sua prática avaliada constantemente. Prática não avaliada é fazer por fazer, fazer por costume, por cotidiano, sem consciência, e por isso mesmo atuação sem crítica e sem a prática do repensar.
O pensar crítico, o analisar, o repensar nos remetem ao início do texto, quando o autor defende a solidariedade dialética do ato de pensar, de escrever, de ler e de repensar. Na avaliação da nossa atuação profissional é necessária uma solidariedade dialética entre o exercício da teoria e da prática, uma releitura de nós mesmos e um repensar do nosso fazer cotidiano como “ensinantes-aprendizes”.
A tarefa de ensinar-aprender requer militância, consciência e paixão pelo saber, profissionalismo e determinação do educador em não se deixar envolver nas sombras ideológicas que buscam minorar o seu papel diante de seus alunos e da educação de modo geral.
O autor aborda, ainda, um outro assunto interessante, quando assinala que as crianças não estão evadindo da escola, mas que, na verdade, as crianças são proibidas de estudar pela configuração social que temos e que alija os pobres do processo de conhecimento e crescimento. As crianças pertencentes às classes menos favorecidas não evadem da escola, e sim são proibidas de estudar por causa da fome, da miséria em que vivem, da falta de escolas e de educadores de qualidade, da distância em que se encontram da escola, da necessidade de trabalhar, da falta de moradia, da estrutura social que favorece poucos e exclui muitos, não apenas no Brasil, mas no mundo.
O texto abordado é uma obra-prima e leva à reflexão profunda sobre vários temas: analfabetismo, política educacional, estrutura social, papel profissional, condição da criança e do jovem em países pobres. Paulo Freire é genuíno em sua escrita, porque dedicou toda sua vida não apenas a pensar, mas a praticar uma pedagogia libertária e justa socialmente e que trouxe para o palco da vida e da sociedade todos aqueles que são jogados na coxia.
O que nos leva a resgatar essa discussão, que foi levantada por Paulo Freire há algum tempo (1993), é o fato de estarmos vivenciando um momento histórico em que a qualidade da educação se mostra cada vez mais comprometida. Por isso, a necessidade de contribuir com a reflexão sobre a prática pedagógica dos educadores.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
A Antropologia das Emoções no Brasil

Mauro Guilherme Pinheiro Koury - * Professor de Antropologia e Coordenador do GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia da Emoção e do GREI – Grupo Interdisciplinar de Estudos em Imagem, na Universidade Federal da Paraíba.
Este ensaio busca fazer um balanço de autores considerados comoprecursores da análise antropológica, procurando compreender como sentiram etrabalharam a questão da emoção em suas análises. Visa a seguir, apresentar ocampo disciplinar da Antropologia das Emoções no estado da arte atual dadisciplina, passando em revista os seus principais autores e temáticas trabalhadasna antropologia brasileira. O que possibilitará uma compreensão maior sobre asbases do processo de constituição e de consolidação da Antropologia das Emoçõescomo disciplina específica no campo das Ciências Sociais no Brasil. A Antropologia das emoções, como campo disciplinar específico, surgiuconcomitante ao processo de consolidação da antropologia geral, embora, enquantoespecialidade em busca de suas próprias fronteiras tenha seu processo formativo,no mundo ocidental, a partir da metade da década de setenta do século XX. Suaemergência parece obedecer a uma série de fatores advindos do conjunto de críticasno interior do campo das ciências sociais desde os finais da década de cinqüenta etoda a década de sessenta do século passado à lógica linear das análises sociais decunho mais estrutural que relegavam para o segundo plano a ação social individuale, por conseguinte, os atores sociais e sua vida emocional. No esforço de umarevisita crítica, tais estudos tiveram a preocupação de apontar os autores clássicosda sociologia que colocaram a questão da intersubjetividade como elementofundamental da análise sociológica. A Antropologia das Emoções parte, deste modo, do princípio de que asexperiências emocionais singulares, sentidas e vividas por um ator socialespecífico, são produtos relacionais entre os indivíduos e a cultura e sociedade. Aemoção como objeto analítico das Ciências Sociais, pode ser definida, então, comouma teia de sentimentos dirigidos diretamente a outros e causado pela interaçãocom outros em um contexto e situação social e cultural determinados (KOURY,2004). Em sua fundamentação analítica vai além do que um ator social sente emcertas circunstâncias ou com relação às histórias de vida estritamente pessoal.
A consideração, a compreensão e a definição da situação dos atores sociaisimersos em uma sociabilidade e em cultura emocional particular, desde então,parecem fazer parte, cada vez com mais vigor compreensivo, da análiseantropológica. A preocupação teórico-metodológica que norteia os debates desdeos primeiros indícios e sinais formadores da Antropologia das Emoções dizrespeito, assim, aos fatores sociais que influenciam a esfera emocional, como seconformam e até onde vai esta influência.A Antropologia das Emoções busca, deste modo, investigar os fatoressociais, culturais e psicológicos que encontram expressão em sentimentos eemoções particulares, compreendendo como esses sentimentos e emoçõesinteratuam e se encontram relacionados com o desenvolvimento de repertóriosculturais distintivos nas diferentes sociedades. A percepção da singularidade dossujeitos, social e historicamente determinados, que embora pertencentes a ummesmo e global processo civilizador e com valores universais da sociabilidadeocidental, mantêm características, princípios e ethos particulares da cultura em queestão imersos, parece ser uma das tarefas que a Antropologia das Emoções estáenvolvida e se propõem como base analítica. A Antropologia das Emoções, assim, é um campo de reflexão que buscarevigorar a análise antropológica introduzindo perspectivas novas e importantes dagrande questão interna da antropologia em geral, como disciplina, que é a daintersubjetividade. A Antropologia das Emoções no Brasil A Antropologia das Emoções no Brasil tem uma vida bem recente. Surgecomo uma tendência afirmativa de um campo disciplinar, principalmente, a partirdos anos noventa do século passado. A discussão e as análises sobre a emoçãosocial, porém, tem uma vida mais longa e pode ser conectada, inclusive, com osestudos e estudiosos fundadores do pensamento das Ciências Sociais brasileiro. Apesar da problemática sobre a emoção ter sido importante para aspesquisas antropológicas nas Ciências Sociais brasileira desde o seu nascimento,ela não foi usada, porém, como objeto de pesquisa próprio, funcionando nomáximo, como uma variável interveniente na análise do social.O conceito de emoção está presente nos estudos de Gilberto Freyre (1966,1990, 1990a) com o ensaio inovador sobre a cultura e as relações sociais durante oprocesso de colonização brasileira, tanto quanto nos trabalhos realizados por SérgioBuarque de Holanda (1994) com a sua teoria do homem cordial. Envolve, também,o universo de pesquisas de autores vários como Roger Bastide (1983), em suaestada no Brasil, e os importantes estudos de Oracy Nogueira (1942 e 1945), entretantos outros. Em todos estes autores as questões das emoções e das relações intersubjetivas no construto social foram sempre uma das problemáticasdefinidoras da busca de identificação de bases compreensivas para a realidadebrasileira, porém, ainda, sendo conjeturadas através de outros objetos e não a partirda categoria analítica das emoções.Nos anos setenta do século XX, os estudos de Roberto DaMatta convocammais uma vez os estudiosos para prestarem uma atenção especial a questão daemoção. Na discussão sobre o Brasil por ele travada, embora sem estabelecer umparâmetro próprio para a emoção enquanto categoria analítica em suas análises,levanta hipóteses onde o sentimento e sua forma de expressão no social perpassa aconstituição do público e do privado brasileiro.Em A Casa e a Rua discute o conceito de sociedades relacionais versussociedades individualistas (DaMATTA, 1987), opondo os dois tipos deorganização social delas oriundas e conectando à lógica brasileira à lógica inerenteao primeiro conceito de sociedade. Este parâmetro analítico o acompanhará porquase toda sua obra (Da MATTA, 1979, 1994 1999), onde buscará entender ocotidiano brasileiro, seus rituais e modelos de ação dentro de um método estruturalbaseado, em amplos termos, na leitura de Marcel Mauss (1974) e, sobretudo, Louis Dumont (1985) sobre o problema do individualismo e da diferenciação analíticaentre indivíduo e pessoa no social.Parte de uma análise do cotidiano e dos rituais e modelos de ação social, noesforço de compreensão da realidade, através de uma costura analítica que tencionaindivíduo e pessoa, como categorias que se articulam de modo peculiar naformação de um social e de uma sociabilidade específica. Elabora, desta maneira,uma leitura antropológica da realidade brasileira dentro de um modelo dual deanálise que contrapõe pessoa e indivíduo. Os modelos de ação e rituais cotidianos no Brasil, para ele, envolve umaoposição entre duas lógicas presentes na sociabilidade brasileira. A primeira, seriauma lógica institucional. Lógica esta visível e superficial, onde o indivíduoemergiria como sujeito estatístico e submetido a leis impessoais do social. Asegunda, por sua vez, seria uma lógica culturalista, estruturante do imaginário einconsciente brasileiro, onde a pessoa emerge como ser relacional, submetido aesferas hierárquicas do sistema social. Este oposição sempre tensa é resolvida através da dominância do elementopessoa sobre o individualizante e abstrato, que restaura a harmonia dos conflitosentre casa e rua pela lógica hierárquica inerente a atitude relacional com referênciaao sistema social presente no conceito de pessoa. A compreensão da realidadesocial brasileira, da cultura e da trama das emoções dela emergida, para Da Matta,deste modo, se dão através de uma leitura estrutural da sociedade. É através dasleis, normas e valores de um sistema social que se pode compreender ocomportamento dos sujeitos individuais nele presentes. Rejeita, assim, uma análise que valorize as relações subjetivas entre os indivíduos e que parta de uma trocaentre indivíduos e sociedade para compreensão de um social determinado. Outro autor importante na configuração de uma sociologia e de umaAntropologia das Emoções no Brasil é Gilberto Velho. Velho (1981, 1985, 1986,1988, 1999) em seus estudos e pesquisas enfatiza a cultura emocional,principalmente das classes médias no Brasil urbano contemporâneo. Como Da Matta, parte de uma dualidade estruturante da realidade brasileira entre sistemashierárquicos e individualistas, baseando-se a sua visão de hierarquia na análisedumoniana entre sistemas individualistas e holistas. Diferente de Da Matta, porém, que busca uma espécie de um padrão únicopara interpretação do ser social e cultural brasileiro, parte do pressuposto de umadiversidade de padrões comportamentais e de sistemas individualistas e holistas nasociedade nacional e enfatiza que procura compreender o social brasileiro dasclasses médias urbanas através da lógica individualista. Discute a emergência doindivíduo psicológico no Brasil urbano e o individualismo crescente das camadasmédias urbanas das grandes metrópoles, especialmente da zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Enfatiza os modos de vida e comportamentos no urbano, re-arranjosfamiliares e de amizade, a lógica individualista dos projetos de vida emcontraponto com os projetos sociais dentro de uma leitura teórico-metodológica degrande influência simmeliana, que mistura a análise fenomenológica com a análiseinteracionista da Escola de Chicago, principalmente de autores como Robert Park, George Mead, Herbert Blumer, Erving Goffman e Howard Becker, sem desprezarcontudo a leitura atenta de autores como Marcel Mauss, Claude Levi-Strauss eLouis Dumont. Elabora uma análise profunda sobre as questões ligada à relaçãoentre subjetividade e objetividade na análise do social, bem como sobre aproblemática das emoções e da cultura emocional urbana na contemporaneidadebrasileira. A problemática da relação tencional entre indivíduo e cultura é um temarecorrente na obra de Gilberto Velho. As relações entre indivíduo e cultura marcamuma dualidade que parece se manifestar e se expressar de diferentes formas emoutras relações como as entre o grupo e seus membros, entre os projetosindividuais e os campos de possibilidades oferecidos para seu aparecimento erealização, entre a questão da unidade individual e social e da fragmentação nassociedades complexas, da tensão entre consenso e conflito, norma e desvio, nabusca de demonstrar o caráter heterogêneo do urbano onde diferentes projetos, individuais e coletivos, se chocam e se interpenetram.Um dos conceitos fundamentais em Gilberto Velho para tratar destaheterogeneidade e das tensões relacionais entre indivíduo e cultura em umasociedade complexa é o de projeto. Para ele, seguindo de perto a análise feita por Alfred Schutz (1970), a noção de projeto implica uma avaliação de meios e finsestando, portanto, fortemente vinculada a uma realidade objetiva e externa.Implica, também, é claro, uma avaliação consciente de condições subjetivas. Anoção de projeto individual para Velho, deste modo, não é um fenômenopuramente interno e subjetivo, mas formulado e elaborado dentro de um campo depossibilidades, e circunscrito histórica e culturalmente, tanto em termos da próprianoção de indivíduo como dos temas, prioridades e paradigmas culturais existentes. Para ele, cada indivíduo é um lócus de tensão entre os constrangimentos dacultura que pedem o enquadramento a padrões, e outros constrangimentos decultura que pedem ao indivíduo autonomia e singularidade. O equilíbrio entre estespedidos contraditórios é uma das tarefas diárias dos indivíduos nas sociedadesocidentais contemporâneas. O que o leva a desenvolver as temáticas do ser no mundo, das ideologiasindividualistas, das alianças, das diferenças individuais, da questão geracional, daproblemática da família, da psicologização das sociedades urbanascontemporâneas, da relação entre racionalidade e emoção, das relações entrecultura objetiva e subjetiva, cara a análise simmeliana, onde a questão da paixãoascende como um elemento compreensivo fundamental no jogo ambivalente deformação dos sujeitos sociais e individuais na sociabilidade urbana contemporâneae, principalmente, para o entendimento da emergência, fundação, modos de agir esignificar dos indivíduos pertencentes às camadas médias urbanas, sobretudo, nasociabilidade brasileira e carioca, de modo particular.Gilberto Velho, deste modo, é um dos autores fundamentais para acompreensão da questão das relações entre subjetividade e sociabilidade quemovimenta os quadros teóricos e dão suporte interpretativo ao pensamento recentee estruturador de uma Antropologia das Emoções no Brasil.Luis Fernando Dias Duarte (1981, 1983, 1986 e 1987) é um outropesquisador importante para a construção de um pano de fundo teórico onde seassenta a emergência e fundamento de uma Antropologia das Emoções no Brasil. Oseu trabalho tem uma preocupação com a questão da relação entre subjetividade ecultura, com uma elegante e importante discussão sobre a emergência do indivíduona sociabilidade ocidental e brasileira em particular. Investigou as noções de pessoa e modernidade na sociedade ocidentalcontemporânea (1983) e a questão da identidade e sistemas de representação,i ndivíduo e pessoa entre as classes trabalhadoras urbanas, discutindo a questão daemoção e sua importância para a análise social e cultural, seja através dareligiosidade (1983) agressividade verbal (1981) vergonha (1987) saúde mental esofrimento psíquico, através da categoria do nervoso (1986) entre trabalhadoresurbanos. Atualmente tem se preocupado com a questão do sofrimento social nasclasses populares e médias no Brasil urbano.
É importante destacar, aqui, o crescimento, desde o final dos anos oitenta doséculo passado na análise antropológica brasileira de estudos ligados àproblemática da saúde e do sofrimento social entre trabalhadores no Brasil, bemcomo a questão da emergência do indivíduo psicológico entre as camadas médiasurbanas brasileiras. Estes estudos e pesquisas têm como centros produtores, osgrupos de pesquisa em antropologia social no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, na Bahia e no Paraná.Uma outra série de estudos importantes para a construção da Antropologiadas Emoções no Brasil tem sido desenvolvida por pesquisadores que correlacionamas temáticas de gênero e envelhecimento. Myriam Moraes Lins de Barros (1987 e1989), Cornelia Eckert (2003), Clarice Peixoto (1993 e1994), Alda Britto da Motta (1996 e 2002) entre outros, têm se dedicado à discussão da identidade, das visõesde mundo, da memória, dos re-arranjos sociais, dos modos de vida e esferasafetivas, a partir de uma ótica das emoções correlacionando gênero e envelhecimento.Maria Claudia Coelho (2003) faz uma importante contribuição ao estudo dadádiva, discutindo a relação dádiva e emoção. Claudia Rezende (2002, 2002a, 2003), a partir do final dos anos noventa do século passado, adota a antropologiadas emoções enquanto linha de pesquisa específica para estudar a questão daamizade. Faz uma análise comparativa da emoção amizade entre cariocas elondrinos tentando comparar e identificar modos de vida e organização emocional esocial no Brasil e na Inglaterra. Os Significados da Amizade (2002) é um estudo comparativo sobre aamizade em dois contextos culturais bastante diversos: as cidades do Rio de Janeiroe de Londres, neles a autora procura compreender como a linguagem da amizadelança luz sobre o modo de construir e reforçar hierarquias sociais. Aprofunda ostipos de sociabilidade que serviram como suporte formativo e imaginário para asnoções de amizade existentes em cada uma das culturas estudadas e realiza, paratal, uma incursão no campo teórico da antropologia da emoção, produzindo umaetnografia sobre os significados e práticas sociais e culturais da amizade e suasrelações de classe, gênero e, no caso brasileiro, além, sobre a problemática racial. Os estudos realizados por Rezende são contribuições importantes para aconsolidação de uma antropologia das emoções no Brasil. Mostra afinidade comautores como Simmel, Weber, Elias e Foucault, e discute precursores brasileiroscom DaMatta e Gilberto Velho, entre outros, que procuram explicitar a emergênciade uma subjetividade singular vinculada às mudanças históricas e culturais nomundo ocidental. Elabora, por fim, uma síntese importante dos pressupostosteórico-metodológicos que norteiam a configuração analítica dentro das ciênciassociais da emoção no Brasil. Atualmente vem trabalhando com a problemática dos sentidos da amizade e da cordialidade presentes no pensamento social brasileiro dos últimos cem anos. Mauro Guilherme Pinheiro Koury também vem pesquisando desde 1993 nointerior da antropologia da emoção. Busca trabalhar com as imagens e suasrepresentações imaginárias e simbólicas na conformação do homem comum urbanobrasileiro, as redundâncias, ambivalências e ambigüidades do ato executado ouexpresso, os silêncios, os discursos e narrativas fragmentados, os gestos e tiquesque invariavelmente acompanham um diálogo ou informação e, às vezes, ampliam,modificam ou contextuam além da própria frase os sentidos do que se querexpressar. Os seus trabalhos abrem-se em três vertentes de preocupação. De um lado, àdiscussão da relação entre o sentimento de luto e a problemática da formação doindivíduo e da individualidade no Brasil urbano contemporâneo, do outro, àsquestões sobre imagem e sentimento e, por fim, a da relação entre medo e cidadena contemporaneidade brasileira. A primeira vertente de preocupação de Koury sobre a relação entre luto esociabilidade (1993, 1999, 2002, 2003, 2005), procura compreender as mudanças epermanências, conflitos e ambivalências, nos modos de vida e imaginário urbanobrasileiro a partir dos anos setenta do século XX. Tem por referência o processo deindividualismo que vem se processando a passos largos no Brasil atual. Faz um balanço do processo de formação e reestruturação vivida pelasociedade brasileira, desde o século XIX aos dias atuais, se detendo, particularmente, nos últimos trinta anos do século XX. A partir de uma releituraaproximativa das obras de Norbert Elias, Georg Simmel e Marcel Mauss, buscapensar a relação entre as alterações na estrutura social e as mudanças nas emoçõesdos indivíduos e os processos sociais envoltos na difusão e recriação contínua denovos modelos comportamentais que refluem sobre formas originais de expressãodo sentimento na sociabilidade urbana brasileira. Os seus estudos buscam compreender os novos e velhos suportes queparecem debater-se nas atitudes e modos de vida atual do homem comum de classemédia brasileiro, de forma ambivalente e ambígua e que o permite viver a criseatravés de um sentimento moral em processo de fragmentação, tornando-os maissolitários e em processo de crescente individualização. Que formas pessoais esociais são experimentadas na situação limiar do luto e que instâncias e debatesinternos e externos asseguram aos atores envolvidos o ajustarem-se aos ritmos dacultura e da organização social local e nacional? Quais os mecanismos que sedelineiam como fomentadores e realimentadores dos processos cultural e social nanova reconfiguração da relação indivíduo e sociedade no país? Até que ponto elespermitem compreender os movimentos de reafirmação do societário instituído, como lugar de pertença, e desilusão, isto é, sempre se movendo sob novas roupagens e significados e, ao mesmo tempo, em contínua instituição? Estas sãoquestões compreensivas que perpassam as análises e indagações do autor sobre afundação e formulação de novas etiquetas e agendas comportamentais e sobre acontinuidade a elas simultâneas, de uma mesma lógica de estruturaçãotradicionalmente satisfeita no país, embora vivida como descontinuidade e comgrande sofrimento social e pessoal no cotidiano das interações. A segunda vertente trabalhada por Koury (1998, 2001, 2002b, 2003, 2003a,2003b, 2005), busca um aprofundamento das relações entre imagem esociabilidade, principalmente através de uma análise crítica da fotografia e suasrelações com a problemática dos sentimentos, da memória, dos estados liminares eda questão sempre tensa entre subjetividade e objetividade na análise do social. Osseus trabalhos, junto com autores como Moreira Leite (2001), Feldman-Bianco e Moreira Leite (1998) e Titus Riedl (2002), entre outros, visam construir pontesimportantes entre as ciências sociais da emoção e a antropologia visual e daimagem, discutindo e contribuindo para um aprofundamento da análise dasemoções e da imagem nas ciências sociais. É importante frisar, também, que as discussões levadas pela antropologiavisual e da imagem no Brasil, sem dúvida, tem dado ênfase e um suportefundamental ao aprofundamento da relação entre subjetividade e sociabilidade noBrasil contemporâneo, e para a análise das emoções, ajudando a traçar as tênuesfronteiras existentes entre as duas especialidades e entre as disciplinas sociologia eantropologia em geral no Brasil, bem como assegurar um quadro deinterdisciplinaridade como fundamento básico de ampliação e suporte nas áreas emquestão. Outra problemática tratada por Koury, é a da relação entre medo e cidade. Esta nova problemática investigativa se dá a partir de 2001, quando retomadiscussões que já vinha realizando desde a segunda metade da década de oitenta doséculo passado sobre a formação do homem comum no Brasil e a construção de umdiscurso modernizador e disciplinador da cidade (KOURY, 1986, 1988), sobre aquestão da pobreza, da violência e cidadania no Brasil (1994 e 2003d), e sobre ossentidos de pertença e sua relação com as noções de confiança, lealdade, medo datraição, ou da insegurança individual e as redes vinculares que dão sustentáculo ebase de apoio à sociabilidade (2002a e 2003c). Koury (2002a, 2002b, 2005a, 2005b, 2005c), desde então, vem organizandouma série de investigações sobre a emoção medo no urbano brasileirocontemporâneo. Nos seus estudos parte da hipótese de que a emoção medo é umaconstrução social significativa, através de uma leitura simmeliana do segredo e dasformas de sociabilidade e construção do indivíduo na modernidade ocidental. Para Koury, em toda e qualquer forma de sociabilidade o medo encontra-sepresente como uma das principais forças organizadoras do social. O fenômeno do medo, para ele, se coloca então como fundamental para se pensar os embates deconfiguração e processos de sociabilidades e de formação dos instrumentos daordem e da desordem que desenham dialeticamente a ação dos sujeitos e grupos emrelação. Processos que compreendem um jogo permanente de manutenção, conformação e transformação de ensaios sociais e individuais realizados enquantoredes de conflito que informam e formulam um social historicamente determinado. Uma outra temática emergente nos estudos de Antropologia das Emoções éa análise do sofrimento social. Koury (1999, 2003b, 2004) e Barreto (2001, 2002) têm desenvolvido trabalhos que abordam o discurso de naturalização e banalizaçãodo sofrimento na sociedade brasileira, e a expressão dos sentimentos deinevitabilidade e indiferença nos discursos e narrativas sobre a problemática daviolência e de situações limites, principalmente no urbano, no imaginário social doBrasil contemporâneo. Cornelia Eckert (2000, 2003) junto com Ana Luiza Carvalho da Rocha (2000, 2000a, 2000b, 2000c, 2001 e 2002), bem como Maria Cristina GonçalvesGiacomazzi (1997), vêem trabalhando a temática da relação entre medo e cidade,privilegiando a região sul do país. As duas primeiras autoras tratam do sentimentomedo através das experiências narradas por indivíduos pertencentes às camadasmédias na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a partir de estudosetnográficos desenvolvidos entre os anos de 1997 a 2000. Giacomazzi, por sua vez, trabalha a problemática dos medos no urbano através de um estudo etnográfico demoradores pobres da periferia de Porto Alegre. As preocupações deste núcleoreferem-se à questão da violência urbana e da cultura do medo, vividos de formareal ou imaginária, e que inferem transformações estéticas no ethos, nas estratégiascotidianas e nos estilos de vida das populações estudadas, face ao sentimento devulnerabilidade e insegurança dimensionadas nas experiências singulares dosentrevistados. Este é um panorama breve, por fim, dos trabalhos, temáticas e autores que, de uma forma direta ou indireta, vem contribuindo para a consolidação da Antropologia das Emoções no Brasil, como campo disciplinar de expansão recentee em processo de consolidação.
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quarta-feira, 6 de outubro de 2010
DOIS PESOS
Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.
http://www.estadao.com.br
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.
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sábado, 25 de setembro de 2010
DEUS VAI ENVIAR AS 12 PRAGAS SOBRE BRASIL POR CAUSA DOS GAYS

Corre na internet a opinião do pastor Piragine, a manifestação de evangélicos ligados ao PT e a posição do ar. Silas Malafaia. Muito bom que tudo isso ocorra, faz parte do Estado democrático o embate de opiniões e idéias. Mas, o que não dá para engolir é quando usando a prerrogativa de líder religioso um individuo aterrorize os membros de seu grupo e pior incentive o ódio a um outro grupo de pessoas, os demonize e os culpe de uma ‘vindoura ira divina”.
Hitler chegou ao poder na Alemanha por vias democráticas com um discurso homofóbico, anti-semita, racista, de preconceito contra deficientes físicos e outros grupos minoritários. Hitler não sabia conviver com diferentes. Para vergonha da Igreja Evangélica, muitos pastores foram “amigos da vez” desse que pode ser considerado sem sombra de duvida, um tipo de anticristo. Foi defendendo os “valores da família”, protegendo “os bons costumes” que militares nos mataram, nos calaram, nos aterrorizaram por vinte anos e mais uma vez a Igreja Evangélica foi “amiga da vez” dessa ditadura, simpatizante e até defensora.
Deus não vai julgar o Brasil por causa do casamento gay, nem da PL 122 (que pune na forma da lei todo ato de HOMOFOBIA, diga-se de passagem), nem por conta da liberação do aborto ou qualquer coisa que valha. Havendo lei ou não, pessoas abortaram, homossexuais continuaram a viverem juntos, serão mortos por homofóbicos, discriminados, humilhados... Nada disso mudará.
Mas, HOJE JÁ ESTAMOS SOBRE A IRA DE DEUS, por que deixamos de ser sal e luz. Porque homossexuais não encontram na Igreja uma palavra de poder que mude suas vidas, porque nossos jovens fornicam como os “do mundo” e abortam como eles, porque não defendemos aqueles que necessitam de defesa, mas os entregamos aos seus algozes.
Porque odiamos os gays, os defensores da legalização do aborto, os defensores do estudo das células troncos, por que os transformamos nos enviados do diabo e nos calamos quanto aos estelionatários da fé com seus trizimos, suas vendas de unção financeira (lembram das indulgencias e perdão de pecados que foi a causa propulsora da Reforma), dos megalomaníacos que se auto intitulam apóstolos, patriarcas e coisa que se imagine.
Calamos-nos diante dos políticos denominacionais que sem diferença alguma do que ocorre em Brasília, usam Igrejas e organizações para enriquecimento ilícito, para manobras pessoais, para imoralidade sexual, para seu feudo pessoal.
Tornamos-nos uma Igreja neoliberal, pós moderna no pior sentido dessa nova era: imediatista, egocêntricos, intolerante, amantes de shows, personalista, INDIVIDUALISTA!
Sobre essas coisas DEUS JÁ TEM NOS JULGADO, permitindo que estejamos cegos indo atrás de homens amantes de si mesmos, enganados a roda de todo vento de doutrina, enganados pelo diabo e suas artimanhas de “milagres e poder”, mortos em igrejas frias, vivendo de religiosidade, capa de bons costumes e sem nunca estar na presença de Deus.
Somos cegos e nus. E não vemos isso.
É hora de lamentarmos e chorarmos a terra do Brasil que está ferida não pelo homossexualismo, mas, pelas nossas iniqüidades como crentes, pela nossa morte espiritual que não alcança a vida daqueles que precisam de Cristo.
É hora de clamar por avivamento. É hora de chorar pelos nossos pecados. É hora de dar as costas as unções financeiras, aos milagres urgentes, “aos milagres em penca”, aos títulos beatíficos, as regressões, a politicagem denominacional....e clamarmos que o Senhor desça dos céus e incendeie nossos corações com seu Poder e nos faça atrair: homens, mulheres, jovens, crianças, heterossexuais, homossexuais, deficientes, negros, brancos, ricos, pobres, iletrados, intelectuais e que a sociedade realmente seja transformada pelo impacto de uma Igreja que transforma vidas, famílias, ruas, bairros e cidades.
Que Deus nos ajude.
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